sábado, 19 de junho de 2010

Você ler uma notícia. Analisa os adjetivos usados. Procura ver nas entrelinhas todo ódio. Em seguida você questiona quem é o autor e quais são os interesses que estão por trás desta nota. Leia por favor, e veja quantas inverdades você encontra.

Vaticano chama Saramago de "populista extremista" e "ideólogo anti-religioso"

Com o título "O grande (suposto) poder do narrador", o órgão oficial do Vaticano critica com virulência o Prêmio Nobel de Literatura, que era marxista e ateu.

O "L'Osservatore Romano" o definiu como "um ideólogo anti-religioso, um homem e um intelectual que não admitia metafísica alguma, aprisionado até o fim em sua confiança profunda no materialismo histórico, o marxismo".

O jornal considera ainda que o escritor "colocou-se com lucidez ao lado das ervas daninhas no trigal do Evangelho".

"Ele dizia que perdia o sono só de pensar nas Cruzadas ou na Inquisição, esquecendo-se dos gulags, das perseguições, dos genocídios e dos samizdat (relatos de dissidentes da época soviética) culturais e religiosos", indica ainda o jornal do Vaticano em seu editorial.

No editorial divulgado com antecedência, considera Saramago "um populista extremista", que se referia "de forma muito cômoda" a "um Deus no qual jamais acreditou por se considerar todo-poderoso e onisciente".

Saramago provocou a ira do Vaticano e da Igreja Católica com sua obra "O Evangelho segundo Jesus Cristo" (1992) no qual considerava que Jesus perdeu a sua virgindade com Maria Madalena.

Ele suscitou novamente a cólera dos católicos em 2009 com "Caim", onde a personificação bíblica do mal, assassino de seu irmão Abel, é descrito como um ser humano nem melhor nem pior do que os outros, enquanto Deus é apresentado como injusto e invejoso.

Durante a apresentação desse livro, Saramago havia alimentado a polêmica, classificando a bíblia de "manual de maus costumes".

Concluindo. Os caras se autodenominam representantes de Deus na Terra e ainda se dão o direito de descarregar todo ódio cristão contra um homem que apenas escrevia suas idéias livremente. O engraçado é que nesta notícia não há nenhuma inverdade. Não são acusações, mas verdadeiros elogios. Por sinal, não me consta que Saramago era pedófilo. Graças a Deus.

sexta-feira, 18 de junho de 2010


Saramago barrado no concurso literário

Acabo de saber que morreu o escritor José Saramago. Como não acreditava em deus nem foi para o céu, sua alma vai ficar presa em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, para sempre.
Mal leio a notícia da transformação do mestre recebo um e-mail com o regulamento do Sexto Prêmio Maximiano Campos de Literatura. Saramago ganhou o Nobel mais estaria impedido de participar deste concurso.
Além de ser estrangeiro, não naturalizado, o português não tinha “escolaridade média concluída”. Só estudou até a quarta série primária. Era um autodidata e antes de se dedicar à literatura foi serralheiro, na oficina do pai, depois mecânico, desenhista industrial e gerente de produção numa editora. Sem ter concluído o ensino médio, nem Saramago e nem Patativa do Assaré poderiam participar desse concurso.
José Saramago publicou mais de 20 romances, poesias, criticas e crônicas. Tava fora do concurso, pois só podem participar do prêmio quem publicou até dois livros. Por que até dois livros? Eu publiquei seis pequenos livros de contos. Também to fora.
Sempre que leio os regulamentos dos concursos literários me espanto com esses critérios. O Concurso Luís Jardim de Contos é um exemplo. Promovido pela Biblioteca Pública de Casa Amarela exige idade mínima de 18 anos. Deixa de fora mais de 50 mil estudantes das escolas daquele bairro e que usam aquela biblioteca.
Leio a notícia da morte de Saramago. Ao meu lado a poeta Sachiko Shinozaki, japonesa nascida em Nagasaki. Tem 50 anos vivendo no Brasil. Não é naturalizada. Também tá fora desses concursos literários.
José Saramago faleceu de forma serena e tranquila. Se concorresse nesses concursos não seria premiado.

Fernando Farias