quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Aviso aos náufragos


Escrito por Fernando Farias

Os tubarões já sabiam e se aproximaram, e ficaram esperando.

Engenheiros brincam de castelos na areia, na praia cheia de turistas brancos assando no sol. Continuaram as obras de contenção do mar.

Os ratos fugiram dos esgotos, os coqueiros caíram e quando a lua surgia a água escorria nas bacias sanitárias.

O mar avançava em centímetros e todos brincando nos carnavais, construindo espigões à beira mar na bela Zona Sul. Nas torres gêmeas moravam o prefeito e o senador.

Calor anormal no campo de futebol com cheiro de algas marinhas. Maresia com degelo e cerveja sem ozônio. Salina nas camas dos motéis.

E chegaram os sinais. A lâmina de água cobriu o Marco Zero fazendo pequenas ondas nos postes da luz. Foi o mar retornando às águas do Capibaribe. Os caranguejos invadiram os elevadores e os quartéis.

Alguém percebeu e achou que era coisa lá do Pólo Sul. Culpou o governo pelo lixo nos canais e pelos cardumes nas calçadas.

Mudou a paisagem quando o mar cobriu as pontes, arrastando os gatos. Carros substituídos por jangadas, cinema com bóias salva vidas. Não havia mais engarrafamentos nem sombra de árvores.

E veio a primeira onda. A segunda e a terceira cheia. Corroendo alicerces, derrubando edifícios, lavando as favelas. Meninos estudando com os pés molhados. Velhos tomando sopa na chuva. Filas nos cursos de natação, que entraram na moda. Alagamentos no morro, na festa da santa padroeira.
Só quando os tubarões começaram a dobrar esquinas e os quintais alguém sentiu que estava sem a perna esquerda e que ficava difícil respirar mesmo dormindo no décimo andar.

Começaram a nadar para o oeste, levando as fotografias, caixas de livros e roupas encardidas. Subiram as serras evitando ser atropelados pelos navios e vendo as gaivotas sobrevoando as cidades do Sertão.

Do Recife nada mais ficará do que pára-raios enferrujados e um sofá vermelho boiando. Restarão os saudosistas insistentes, sempre fugindo dos tubarões e lembrado dos antigos carnavais.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

JORNAL RASCUNHO

Sou um menino besta, eu sei. Vaidoso, orgulhoso e muitofeliz.
Pensei que já estava muito frio para a vaidade. Mas a publicação do meu conto Alexandria no Jornal Rascunho, o maior jornal de literatura do Brasil, editado em Curitiba pelo Rogério Pereira, me deixou tão abestalhado que coloquei numa modura e na parede de minha sala. O conto já tinha sido antes publicado na Revista Pernambuco, aprovado com honras pelo editor Raimundo Carrero. Agora no Rascunho, ao lado de grandes nomes da literatura nacional, sou o um escritor feliz. Muito Feliz.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sobre o autor desconhecido


Fernando Farias

Nada pior do que dizer uma frase, um poema ou um conto e não lembrar o nome do autor. A gente se sente usurpando a idéia e ou se passando como ladrão da frase dos outros. Eu mesmo já recebi um e-mail com um dos meus textos atuais atribuído a um autor desconhecido.
Passei anos contando a amigos um conto que li na minha infância sobre a trama de três pobres pintores que ficam ricos vendendo quadros de um famoso artista que faleceu drasticamente. Só que o falecido era um deles e estava bem vivo produzindo e vendendo. A história é justamente sobre a fama e o sucesso que só chegam ao artista depois de sua morte. Sempre atribuí essa história ao Guy Maupassant. Acho agora o mesmo conto em uma coletânea e descubro que o verdadeiro autor é o Mark Twain, um escritor que adoro e morro de medo de pronunciar seu nome em público.
Mas tudo que escrevi acima é apenas uma introdução, ou o passar da manteiga, para citar o melhor mini conto que já li. Faz uns cinco anos que li no site de Literatura mineiro, mas esqueci o nome do autor. Estava em um disquete que perdi.
Se conto o conto aqui é na esperança que alguém descubra quem é o autor e que lhe seja atribuída às devidas homenagens. O conto é o seguinte:
“Ele e ela se amavam, até que veio o meteoro”.
Pronto. Esse é o conto. Uma história de amor, com dois personagens, uma tra-gédia da boa ficção cientifica da catástrofe. É muito mais em apenas uma frase.
Adoro esse conto. Melhor do que os contos do Augusto Monterroso e bem me-lhor do que O Mensageiro do Julio Cortázar com trinta paginas.
Um dia eu descubro o nome deste autor mineiro, tão desconhecido para mim.