quinta-feira, 18 de setembro de 2008

DEUS ACREDITA EM MIM

Quando comprei um piano, meus dedos foram decepados num assalto. Quando minhas pernas foram amputadas, ganhei um carro na loteria. Quando comprei uma TV, tela plana de cristal, 90 polegadas, fiquei cego.
Não. Não acho que Deus tenha raiva de mim. Acho que ele tem muito senso de humor; diverte-se comigo.
Quando te encontrei me apaixonei, já estava velho e impotente. E ao declarar todo meu amor, você riu. Disse que eu era apenas um amigo.
Espero que Deus não saiba que adoro o perfume das rosas.

DORES DE PLUTÃO

Estou esperando o resultado da minha autópsia.
Quero saber que dor era aquela que doía não sei onde em alguma parte do meu corpo. Pois a alma e coração só doem nas metáforas dos poetas. Quando me espatifei no chão não senti nada, acho que morri de parada cardíaca entre o décimo e o oitavo andar.
Ela saiu de casa, dizendo que ia morrer atropelada. Voltou à noite ainda com sangue no vestido e reclamando do diretor do filme. Teve que repetir o atropelamento dez vezes. Pensei em fazer o mesmo. Mas voar do edifício atrapalha menos o trânsito.
Agora que as dores cessaram, descubro que a dor durante a depressão, não era o medo da invasão dos jacarés alados, mas sim a maior de todas as dores humanas. E meu medo da morte foi tanto que saltei para os braços dela.

BORBOLETA

Diante dos meus olhos
Voa a borboleta pequenina,
Tatuada,
Acima do montinho de Vênus.
Vai e vem
Na minha língua,
A borboletinha molhada
Estremece e goza.